quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Vergonha oculta

Antes que possa induzir alguém em erro esclareço desde já a razão de ser do título da presente crónica: hesitei entre escrever sobre os 20 anos da demolição do Muro da Vergonha ou sobre o processo Face Oculta. Como hoje tenho de escrever este artigo em tempo recorde – portanto, sem possibilidades de revisão – decidir misturar os dois temas e, agora sem hesitações, vou começar a debitar o que sinto e depois logo se vê como sai. Para já, começo por referir que discordo de uma das possíveis ideias que o título possa sugerir, que é a de que as pessoas ocultam – no dizer de Pêro Vaz de Caminha – "as suas vergonhas". Pelo contrário, acho mesmo que o descaramento e a falta de vergonha nunca foram tão longe.



Comecemos então pela "face oculta". Embora este assunto seja tema recorrente na imprensa dos últimos tempos e até veja as pessoas a condenar as alegadas práticas de corrupção, a verdade é que assistimos a uma certa complacência, a alguma compreensão até, em relação às golpadas que se vão dando um pouco por todo o lado e que explicam cabalmente o atraso deste país apesar dos muitos milhões de euros da União Europeia que temos recebido. Em grande ou em pequena escala, o que não faltam são pessoas dispostas a abdicar de princípios éticos para se venderem a troco de pequenas ou grandes vantagens que certamente não alcançariam de outra forma ou apenas alcançariam com muito mais esforço ou muito mais tarde. Com o exemplo a vir de cima (não, não estou a falar do FREEPORT, estou a falar da licenciatura do nosso Primeiro), muita gente parece preferir a via mais fácil, mesmo que esta não seja a mais correcta. Num cenário de "normalidade" de fenómenos destes, quem acaba por ficar mal visto ou a passar por parvo são aqueles que recusam tais práticas enviesadas. Disseram-me, outro dia, que só os ricos ou aqueles que estão bem empregados é que podem "dar-se ao luxo" de ter princípios… Discordo! São os poderosos que corrompem e os corrompidos são os gananciosos. Nada disto tem a ver com necessidades vitais. Há dias falei com um funcionário aposentado que lamentava as maleitas da idade e a morte da companheira com quem criou 7 filhos num monte que fazia alusão à pobreza. Nada podia ter-me embevecido mais que o orgulho que patenteou por sempre ter recusado os envelopes que o beneficiariam materialmente mas que prejudicariam, irremediavelmente, a sua capacidade de olhar de cara levantada todos quantos o rodeiam.



Ainda estava a tempo de mudar o título desta crónica mas já não o vou fazer. Recordo apenas que há 20 anos caiu o Muro de Berlim e que fico muito feliz por isso.



Termino com uma ideia que caiu neste instante no meu cérebro e que já não vou apagar: por "face oculta" devemos entender que os corruptos deviam usar burca? Se calhar não era má ideia… podia fazer com que a corrupção passasse de moda mais rapidamente.

As imagens foram colhidas nos locais para os quais apontam as respectivas hiperligações.

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