Ainda criança disseram-me que a nossa missão na terra era conquistar um lugar no Céu. Sim, porque a vida pode acabar no corpo mas a Alma é imortal. Naquele tempo de inocência era para nós fácil acreditar nestas coisas. Afinal, só tínhamos que nos portar bem que S. Pedro nos abriria as portas do Céu… e valia a pena, já que as alternativas para uma alma pecadora eram as agruras do fogo do Inferno.
Lembro-me também com muita clareza da fase da minha vida em que comecei a pôr estas ideias em causa. Curiosamente coincidiu com uma fase do desenvolvimento da personalidade que a psicologia caracteriza como a "afirmação do Eu" (vá lá saber-se o porquê…). Enfim, pouco importa. O que importa aqui é que passaram muitos anos para voltar a acreditar na essência da Alma, até finalmente reconhecer que aquilo que somos em vida pode perdurar claramente para além da morte.
Como é evidente, não o descobri pela minha própria pessoa, mas sim por aqueles que, morrendo, me permitiram descobrir a existência de vida para além da morte. Às vezes é uma mera recordação, um contacto com um lugar, o reviver de uma situação, uma forma de tossir, de rir, de andar, um escrito reencontrado, uma foto ou, mais recentemente, um filme, às vezes é uma mesa ou uma cadeira, outras é a chuva, o vento, a neve ou o sol… Enfim, aqueles que nos marcaram em vida perduram na nossa memória e, enquanto houver memória, voltam a nós fazendo-nos reviver momentos de alegria ou de tristeza, provocando-nos sensações muito similares àquelas que sentimos enquanto partilhávamos um espaço e um tempo comum.

Destes eleitos, um deles morreu esta semana conseguindo com a sua morte despertar as mesmas paixões e ódios que suscitou em vida. A este já está garantida a vida eterna.

Publicado na edição de 24 de Junho de 2010 do Jornal Brados do Alentejo.
Também publicado em EstremozNet.
As imagens foram colhidas nos sítios para os quais apontam as respectivas hiperligações.
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