O tema que escolhi para este fim de ano está relacionado com três crónicas anteriores, ainda que em diferentes graus e de formas também diversas. Foram elas: "Distância hierárquica", "Sufrágio universal" e, finalmente, "Autoavaliação". Chamem-lhe rebeldia se quiserem, mas tenho muita dificuldade em aceitar que algumas pessoas andem de cócoras em relação a outras se querem ter direito às boas graças das segundas. Quando eu era mais novo e, então como agora, me rebelava com tais situações, os anciãos diziam-me repetidas vezes que eu era assim porque era jovem e que, como tal, com a idade este "mal" acabaria por me passar. Mas não. Essas pessoas estavam enganadas. Acho mesmo que à medida que o tempo passa vou ficando cada vez "pior". Já explico porquê.
Sempre que me dizem que certos lugares de chefia não devem resultar de eleição mas sim de escolha ou de eleição (mitigada) por um colégio de ilustres, sinto que querem fazer de mim "pó-de-sapato". Tenho muita pena, mas isso não, embora reconheça que o que não falta é quem se predisponha facilmente a puxar o brilho ao calçado dos superiores. Também não me interessa se o PS e o PSD estão de acordo nesta matéria. O que me interessa é constatar que só através de eleição directa e universal se combate o despotismo e a concomitante servidão que lhe está associada. Só através de júris independentes de quem nomeia e sem interesses directos na nomeação se conseguem escolher os que são efectivamente melhores, preterindo os "preferidos" que são quase sempre potenciais cúmplices nas mais diversas falcatruas. Portanto, não me falem em directores de escolas escolhidos entre "ilustres". Não me falem de modelos de avaliação em que a opinião do superior hierárquico é determinante para o futuro do subordinado. Não me falem em concursos públicos viciados, em que se sabe à partida quem vai ganhar, na medida em que o júri é escolhido por quem nomeia. Para isso prefiro uma mera nomeação, que é seguramente menos hipócrita, desde que quem nomeia possa ser responsabilizado directa e pessoalmente por isso.
Falem-me de separação de poderes, colocando num plano a direcção política e estratégica e noutro a salvaguarda da legalidade. Falem-me de reitores ou presidentes de politécnicos eleitos por professores, alunos e funcionários, e de administradores escolhidos por um júri sorteado por entidade independente e constituído, exclusivamente, por outros administradores. Falem-me de presidentes de câmara eleitos directamente pelos cidadãos e de secretários municipais escolhidos em concurso similar ao que defendi para as universidades e politécnicos. Falem-me em Directores de Escola eleitos entre professores, alunos e funcionários – e que ele seja um professor está muito bem – mas falem-me duma gestão administrativa e financeira independente, escolhido entre pessoal dirigente livre e não subordinado à vénia. Falem-me de avaliação de desempenho em que predominam factores objectivos e não a opinião do notador.
E é assim, com a devida vénia, que desejo a todos os concidadãos Festas Felizes.
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