Perguntam-nos se faz sentido manter a rede do caminho-de-ferro em Estremoz. Respondemos de forma indirecta com uma outra pergunta: fez sentido derrubar-se a muralha setecentista no troço que ia desde as Portas de Santa Catarina até ao final da Avenida 9 de Abril? Alguém pode hoje apreciar os baluartes, as cortinas que os ligavam, os revelins, os adarves ou as troneiras? O irónico desta situação está no facto de ter sido, justamente, o caminho-de-ferro o "culpado" – ou, pelo menos, um deles – pela demolição da muralha. O argumento usado na época era de que as muralhas espartilhavam a vila, impedindo-a de crescer. Houve quem entendesse que a muralha setentrional era um empecilho, entre outras razões, porque perturbava o acesso aos caminhos-de-ferro, sendo estes vistos, na época, como a ligação de Estremoz ao resto do mundo e, por maioria de razão, ao seu desenvolvimento.
Curiosamente, um século depois, os argumentos repetem-se com ligeiros ajustamentos: agora os "maus da fita" são os carris de ferro. São estes que estão a impedir Estremoz de se desenvolver. Esta ideia é tão errada como aquela que levou os mais ingénuos de outros tempos a pensar que o ramal de Vila Viçosa visava o desenvolvimento desta região. Se assim era, porque não prosseguiu tal linha até à Fronteira do Caia? A resposta era simples: o Palácio Ducal ficava antes e era até lá que Sua Alteza El-Rei D. Carlos desejava o adequado "desenvolvimento" para as suas caçadas na Tapada. Só por isso é que tivemos comboio logo em 1905, caso contrário teríamos de esperar até 1948, data em que foi concluído o ramal de Portalegre, o qual, esse sim nos levava à fronteira pelo caminho mais… sinuoso.
É, de facto, deprimente o estado a que chegou a nossa estação ferroviária. O edifício, de uma belíssima traça arquitectónica tradicional, com painéis de azulejos de grande qualidade artística, está votado ao mais completo abandono. As cocheiras de locomotivas e de carruagens – que albergaram um valiosíssimo espólio histórico – estão agora no meio da "selva", tal é o matagal que se tem de percorrer até as alcançar. Noutros locais – como em Fronteira, por exemplo – as estações foram recuperadas e são hoje factores de desenvolvimento no âmbito do turismo. Casos há em que as antigas locomotivas a vapor foram colocadas em circulação, refazendo percursos históricos e culturais. Aqui há quem só pense em destruir.
Notas:
Este artigo carece de clarificação:
O comboio chegou a Estremoz em 1873 mas... àquela que era então (e se pensava que continuaria a ser) a única Estação de Estremoz, ou seja, ao Ameixial. O comboio só chegou à Estação da futura Av.ª 9 de Abril 30 anos mais tarde, depois de avanços e recuos na definição do traçado da linha, de graves problemas financeiros da companhia e de outras peripécias que já vi relatadas em vários escritos. A referência a 1905 - e não a 1903 - no texto supra justifica-se por ter sido o ano da conclusão e, consequente, entrada em funcionamento do ramal de Vila Viçosa que é aquele que vem referido no contexto.
Por seu turno o ramal de Portalegre foi aberto em 1925 mas apenas e só até Sousel. Apenas em 1937 foram estabelecidas as ligações até Cabeço de Vide e, finalmente, só em 1948, conforme o texto refere, foi concluída a ligação a Portalegre, a qual entroncou por sua vez com a ligação a Elvas (vinda do Entroncamento), a qual já existia desde 1863.
Reconhece-se, no entanto, e isto na sequência de alguns comentários recebidos, que o texto original deste artigo pudesse gerar interpretações erróneas.
Por seu turno o ramal de Portalegre foi aberto em 1925 mas apenas e só até Sousel. Apenas em 1937 foram estabelecidas as ligações até Cabeço de Vide e, finalmente, só em 1948, conforme o texto refere, foi concluída a ligação a Portalegre, a qual entroncou por sua vez com a ligação a Elvas (vinda do Entroncamento), a qual já existia desde 1863.
Reconhece-se, no entanto, e isto na sequência de alguns comentários recebidos, que o texto original deste artigo pudesse gerar interpretações erróneas.
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