Há cerca de 2400 anos foi redigido um texto, escrito por um seguidor de Sócrates, com o mesmo título da crónica desta quinzena. A Apologia de Sócrates descreve os últimos dias da vida de uma das maiores personagens da História da humanidade e da filosofia, enaltecendo a sua coragem e o seu comportamento no julgamento de que foi alvo por parte da cidade de Atenas. Acusado de corromper a juventude contra a religião e as leis da cidade, Sócrates viria a ser condenado à morte – pela ingestão de cicuta (um veneno) – num tribunal com mais de 500 juízes, dos quais pouco mais de metade se pronunciaram favoravelmente às teses da acusação.
Esclareça‑se, todavia, que a minha Apologia de Sócrates pouco tem que ver com aquela que foi escrita (se bem que… um pouco romanceada) por outro grande vulto da filosofia: Platão. Desde logo, porque o Sócrates a que me refiro não é o mesmo. É outro bem mais conhecido dos portugueses. Por outro lado, ao contrário da apologia de Platão, a minha não revela idêntica devoção pelo personagem.
Mas porque razão merece Sócrates esta apologia, demais a mais provinda de alguém que não votou nele? A razão é simples: Sócrates rompeu em definitivo com a tradição socialista da não governação, de adiar a resolução dos problemas, de fingir que faz sem fazer, de fingir que decide sem decidir. Não vou deixar elogios às políticas do governo, nem sequer vou discuti‑las na substância, agora que o povo português ficou surpreendido com este estilo de governação por parte de um primeiro-ministro socialista, disso não há a mínima dúvida. Provavelmente, Sócrates teve outra escola… talvez isso explique tudo. A tradição do “Socialismo de Caviar” é bem diferente. Dizem‑se defensores dos mais desprotegidos mas representam, afinal, uma burguesia urbana bem instalada na hierarquia social que, tradicionalmente, se protege a si própria mais do que qualquer outra coisa. Evidentemente, existem socialistas muito diferentes entre si, uns laicos, de raiz jacobina e maçónica, outros cristãos professos e praticantes, mas que em comum tinham sempre o não fazerem nada ou não fazerem nada de jeito. O que importava eram os votos, os amigos, os jeitos e as cumplicidades. O Povo e o País ficavam, naturalmente, no fim da fila.
Esta é a razão porque faço esta minha apologia a Sócrates. Foi o primeiro socialista que conseguiu cortar a direito, que conseguiu decidir mesmo quando a opinião pública não é favorável. Foi e é, o primeiro socialista português que revelou coragem política.
O facto de reconhecer qualidades a Sócrates não faz de mim um seu seguidor. Em bom rigor, detesto o seu carácter, o seu calculismo pragmático, a sua atitude de mentir para chegar ao poder, a sua falta de escrúpulos em que os fins sempre parecem justificar os meios.
Esclareça‑se, todavia, que a minha Apologia de Sócrates pouco tem que ver com aquela que foi escrita (se bem que… um pouco romanceada) por outro grande vulto da filosofia: Platão. Desde logo, porque o Sócrates a que me refiro não é o mesmo. É outro bem mais conhecido dos portugueses. Por outro lado, ao contrário da apologia de Platão, a minha não revela idêntica devoção pelo personagem.
Mas porque razão merece Sócrates esta apologia, demais a mais provinda de alguém que não votou nele? A razão é simples: Sócrates rompeu em definitivo com a tradição socialista da não governação, de adiar a resolução dos problemas, de fingir que faz sem fazer, de fingir que decide sem decidir. Não vou deixar elogios às políticas do governo, nem sequer vou discuti‑las na substância, agora que o povo português ficou surpreendido com este estilo de governação por parte de um primeiro-ministro socialista, disso não há a mínima dúvida. Provavelmente, Sócrates teve outra escola… talvez isso explique tudo. A tradição do “Socialismo de Caviar” é bem diferente. Dizem‑se defensores dos mais desprotegidos mas representam, afinal, uma burguesia urbana bem instalada na hierarquia social que, tradicionalmente, se protege a si própria mais do que qualquer outra coisa. Evidentemente, existem socialistas muito diferentes entre si, uns laicos, de raiz jacobina e maçónica, outros cristãos professos e praticantes, mas que em comum tinham sempre o não fazerem nada ou não fazerem nada de jeito. O que importava eram os votos, os amigos, os jeitos e as cumplicidades. O Povo e o País ficavam, naturalmente, no fim da fila.
Esta é a razão porque faço esta minha apologia a Sócrates. Foi o primeiro socialista que conseguiu cortar a direito, que conseguiu decidir mesmo quando a opinião pública não é favorável. Foi e é, o primeiro socialista português que revelou coragem política.
O facto de reconhecer qualidades a Sócrates não faz de mim um seu seguidor. Em bom rigor, detesto o seu carácter, o seu calculismo pragmático, a sua atitude de mentir para chegar ao poder, a sua falta de escrúpulos em que os fins sempre parecem justificar os meios.
Mas respeito a determinação.
[Publicado na edição do Jornal "Brados do Alentejo" de 15 de Dezembro de 2006 (http://bradosdoalentejo.com.sapo.pt/)]
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