Mas, lá está, os portugueses sempre souberam rir-se da adversidade e cá pelo burgo, no corso carnavalesco seguinte, parodiou-se com isso: “– Próxima semana gasolina mais barata: 7$50 o meio-litro!”. Não havia razões para temer a censura: era Carnaval, logo, ninguém podia levar a mal. As pessoas riam. Bem, alguns levaram o seu tempo a perceberem a piada. Lembro-me de um sujeito explicar a outro que agora quando fosse à bomba o primeiro meio-litro era mesmo mais barato, o segundo é que já era mais caro.
Este episódio veio-me à memória a propósito dos escalões da água de consumo em Estremoz. De facto, recentemente, a forma como passou a ser cobrada a água alterou‑se. O propósito inicial até era louvável dado que, antes, na era Mourinha, toda a água era cobrada ao preço do último escalão de consumo. Mesmo já no final do mandato, a anterior administração municipal ainda encetou uma ligeira nuance, fazendo com que todos pagassem os primeiros 4 metros cúbicos (em 2 meses) a um preço mixuruca. O actual executivo, quis acabar com tal injustiça. No actual sistema todos pagam os primeiros consumos ao mesmo preço médio, já que a tarifação ocorre, efectivamente, por escalões. Vai daí, restava apenas ajustar o preço de cada escalão em função da inflação.
E aí está o resultado na tabela anterior. De 16 para 17 cêntimos ou de 85 para 87 cêntimos a diferença é, de facto, mínima. Só há um pequeno detalhe: os actuais escalões correspondem a metade do volume dos anteriores. Resultado final: aqueles que consomem até 5 metros cúbicos por mês viram a sua factura agravada em 78%.
Questionado sobre este assunto na última reunião da Assembleia Municipal o presidente disse, e passo a citar com o devido destaque: “– …!” (fim de citação). Afinal ele sabe que, como alguém dizia, “mais vale ficar calado e parecer tolo do que falar e não deixar qualquer margem para dúvidas!”. Questionado sobre onde estavam registadas as dívidas de factoring, de que reincidentemente se queixa, ele disse exactamente o mesmo (não me obriguem a citar por causa da falta de espaço).
Em sua defesa acorreram pessoas que, menos experimentadas, desconhecem a citação anterior. Disseram que eram as “meias verdades” desta coluna que andavam a mentir e que a derrama só afecta as empresas com lucros. Pois bem, para quem vive no reino da fantasia, faço apenas duas recomendações: (1) perguntem às pessoas se andam, ou não, a pagar mais pela água; (2) perguntem aos empresários abrangidos pelo regime simplificado de tributação se não tiveram que pagar derrama, mesmo evidenciando prejuízos.
Repare‑se que nem sequer estão em causa as políticas adoptadas. Têm virtudes e defeitos como todas. O que esteve em causa quando escrevi as “meias verdades” foi faltar‑se à verdade, pensava eu, de forma deliberada.
Mais preocupado fiquei quando percebi que eles nem sequer faltaram à verdade com intenção. Não sabiam!
[Publicado na edição de 6 de Outubro de 2006 do Jornal Brados do Alentejo (http://bradosdoalentejo.com.sapo.pt)]
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