segunda-feira, 17 de maio de 2010

Estão preparados?


Se não estão então é melhor que se preparem, porque é cada vez mais provável que venha a haver uma subida significativa de impostos. Quem já trabalhava em 1983 sabe perfeitamente ao que me refiro. Nesse ano, mas já em Setembro, o presidente Eanes recebeu para promulgação um decreto da Assembleia da República que previa, entre outras maldades, a arrecadação de 25,2% do 13.º mês desse ano. Como se sabe, pagar impostos não constitui propriamente uma actividade prazenteira, mas enfim, a gente habitua-se e depois já nem estranha. Quando esse imposto é extraordinário já dói bastante mais… mas caramba, quando tal tributo apanha a maior parte das pessoas desprevenidas, isso já tem alguns requintes de puro sadismo. Em 1983, houve quem ficasse com as calças na mão porque já tinha comprometido o subsídio de Natal com que estava a contar. Como se essa maldade não bastasse, o imposto extraordinário sobre o rendimento, como então foi baptizado, veio ainda revestido duma mentirinha piedosa que o tornou ainda mais odioso: o governo disse que a taxa de imposto era de 2,8%... sobre todos as remunerações certas e permanentes auferidas entre Janeiro e Setembro desse ano. Chiça, nem sequer foram capazes de dizer que mais de ¼ do subsídio de Natal ia à vida.
Portanto, meus amigos, faço votos para que desta vez não sejam apanhados de surpresa. Até pode nem acontecer – até porque agora a moda é aumentar o IVA e outros impostos sobre a despesa – mas se o fisco atacar de novo pelo lado do rendimento que ao menos estejam preparados.
Como qualquer cidadão comum, sinto que não tenho culpa nenhuma pelo estado a que o país chegou e também me sinto tentado a fazer coro com todos quantos acham que quem o estragou que pague o arranjo. Porém, a realidade é um pouquinho mais complexa e, pensando bem, não o vou fazer. Primeiro, porque não vale a pena perder tempo com choradinhos: é certo e sabido que quem se lixa sempre é o mexilhão. Depois, porque se tiver que prescindir agora de parte do subsídio de Natal isso poderá ser um mal menor comparado às consequências da descredibilização internacional da minha moeda, o €uro. Se o Euro desvalorizar, tudo quanto vem da Ásia, de África e das Américas vai ficar mais caro. A inflação é um imposto escondido que nos come vivos quase sem darmos por isso. Atrás da inflação vêm as subidas das taxas de juro. Cada subida de 3 pontos percentuais da Euribor correspondem a 100 euros de imposto extraordinário que a maior parte das famílias endividadas irão pagar todos os meses enquanto a crise durar. E, meus senhores, se a crise se instalar na zona Euro não só vai permanecer por muito tempo como as taxas de juro não irão subir apenas 3 pontos percentuais. Comparado com este cenário, prefiro claramente pagar um imposto extraordinário só uma vez.
O meu único desejo é: que valha a pena!

Publicado na edição de 13 de Maio do Jornal Brados do Alentejo.
As imagens foram colhidas nos sítios para os quais apontam as respectivas hiperligações ou são do autor.

Nota final: Devo esclarecer que apesar de o Brados ter sido publicado no mesmo dia em que a demais imprensa de âmbito nacional noticiou o surgimento de novos impostos, este artigo foi escrito antes, ou seja, em data em que ainda não havia a circular qualquer notícia concreta sobre este assunto. O que havia no início da semana eram especulações, característica que este artigo também assumiu.

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