quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Auto-estima colectiva


Esta história ocorreu nesse mundo virtual a que vulgarmente se dá o nome de blogosfera, no qual apenas parte dos intervenientes têm rosto e são identificáveis, enquanto os demais permanecem a coberto do anonimato (umas vezes apenas conveniente, outras tantas indispensável para que a verdadeira natureza das pessoas se evidencie).
Há dias insurgi-me contra umas pessoas que se consideram… (bom vamos lá ver qual há-de ser o adjectivo mais adequado…) especiais num mundo em que os seus semelhantes são… (e agora como hei-de dizer isto…) menos cultos, menos informados e talvez… talvez não, decididamente, tugas. Para quem não sabe o que é ser tuga informo que é o diminutivo de portuga, que é aquele português que envergonha os seus pares por ser tosco, grosso, preguiçoso, oportunista, fingido, pato-bravo, analfabruto, que gosta de futebol, que não sabe os nomes dos arquitectos, pintores, escultores e poetas mais eruditos e que percebe mais de minis e de caracóis do que vodka e de caviar.
Insurgi-me, esclareço, mais por estarem a ser condescendentes com os estremocenses – do género, "benza-os Deus, nem sabem valorizar o que têm…" – do que propriamente pelas razões de fundo que os levou a criticarem o estacionamento no nosso Rossio Marquês de Pombal. Como é óbvio, o meu comentário suscitou reacções variadas, deslocando o debate do tema original – o estacionamento no Rossio – o qual, a partir de determinada altura, ficou reduzido a mero pretexto para serem tecidas considerações de outra natureza e que eu classificaria de lapidares… sobre as diferenças culturais e de atitude que caracterizam, grosso modo, a sociedade portuguesa.
De um lado estavam os que defendiam a tese do (e agora cito uma expressão ali utilizada) "lá fora é que é"; do outro estavam aqueles que, sem deixarem de reconhecer que em Portugal há do melhor que nos orgulha e do pior que nos envergonha, defendiam abordagens diferentes para os mesmos problemas, as quais, invariavelmente, incorporavam uma auto-aceitação das características dos portugueses. Embora eu não tivesse voltado a pronunciar-me naquele blogue, é evidente que me perfilo do lado deste segundo grupo.
Aliás, sem a auto-aceitação (a que antes me referi) não há espaço nem condições para poder emergir a auto-estima, mazela que afecta de forma relevante os portugueses em relação ao Eu colectivo que é Portugal. Este fenómeno é tão grave que, conforme evidencia um estudo de 2009 do Reputation Institute, chegámos ponto de Portugal ter melhor reputação junto dos estrangeiros que junto dos portugueses.
Isto não significa que não devamos reconhecer os nossos erros nem procurar encontrar soluções para os resolver. Significa somente que não é atacando as pessoas, sem tentar compreendê-las, que se atraem adeptos para os nossos pontos de vista. Afinal, é com os portugueses que vamos ter de fazer deste país um lugar melhor para se viver.
Notas:

  1. As imagens foram colhidas nos sítios para as quais apontam as respectivas hiperligações;

  2. Publicado na edição de 04Fev2010 do Jornal Brados do Alentejo;

  3. Artigos relacionados:

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