quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Melhores dias virão

Estão a ocorrer dois fenómenos que induzem a esperança de que melhores dias virão. Ainda que de forma irritantemente lenta, os preços dos combustíveis já começaram a baixar. Por outro lado, aqueles que estão a pagar empréstimos à habitação (com taxa de juro indexada à Euribor) poderão vir a registar um desagravamento do crescimento dos encargos ou até, mantendo-se a actual tendência, uma eventual diminuição destes (se a revisão da taxa ocorrer para lá de Dezembro).

Em contrapartida continuam a pairar no ar nuvens negras. São insistentes os rumores de que a actual crise financeira poderá preceder uma crise económica de dimensões inimagináveis há apenas algum tempo atrás. As razões explicam-se em poucas palavras. Se a crise financeira atingisse apenas o mercado de capitais – banca, empresas financeiras e investidores especulativos – alguns até diriam "Bem feita!". O problema está no facto de muitos inocentes terem confiado as poupanças de uma vida de trabalho a certos fundos – agora classificados de "tóxicos" – e, de um dia para o outro, ficarem privados dos recursos que lhes iriam permitir continuar a consumir como até aqui. Isto já aconteceu na Islândia, está a acontecer nos Estados Unidos e, teme-se, poderá ainda acontecer noutros países. Sem recursos financeiros não há consumo, assim como deixa de haver financiamento à economia, factos que poderão gerar falências em catadupa, desemprego e, num círculo perigosamente vicioso, mais quebras na procura, mais falências, etc. Bom, oxalá tal não aconteça.

Alternando com aquilo que se pensa serem boas notícias, o Governo anunciou uma subida do salário mínimo para 450 euros (mais 5,6%) e aumentos de 2,9% para a função pública, daqui resultando um acréscimo no rendimento das famílias na ordem dos 3%. Porém, quer o crescimento da massa salarial quer as injecções de dinheiro no mercado financeiro são manipulações artificiais (no sentido em que não ocorreriam sem haver um aumento efectivo na riqueza criada). Esperemos, pois, que tais medidas resultem conforme o que se deseja, sem que daí resultem "inchaços", ou seja, meros aumentos de volume sem correspondência na substância (inflação).

Ao contrário, a redução da cotação do petróleo já é um reflexo do mecanismo de mercado a funcionar na sua plenitude. Perante a eminência da recessão económica, o mercado de matérias-primas ressentiu-se pela redução da pressão da procura. Este automatismo vai ser muito importante para a retoma económica. Todavia, não nos iludamos ao pensar que as causas estruturais do 3.º choque petrolífero estão ultrapassadas. Passada esta conjuntura o petróleo voltará a subir até que seja reduzida a dependência dos combustíveis fósseis.

Enfim, vamos acreditar que tudo irá correr pelo melhor!

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

O regresso das nacionalizações

Vinte anos mais tarde fui aluno daquele que foi considerado o ministro das nacionalizações no "Verão Quente de 75", em pleno Gonçalvismo. Para quem ia à espera de encontrar um "comuna" radical foi uma desilusão. Afinal, o referido senhor nem sequer se considerava (já) comunista. De uma simplicidade deveras encantadora, a sua modéstia impedia-o de assumir a paternidade das nacionalizações, porquanto, dizia ele, apenas tinha presidido ao órgão que as determinou, por delegação do General Vasco Gonçalves. Não se pense que Mário Murteira – este é o seu nome – estava "a sacudir a água do capote". Pelo contrário, sempre assumiu o seu passado referindo que – no contexto social, económico e político em que as nacionalizações ocorreram – aquelas decisões "faziam sentido".

Agora volto a ouvir falar de nacionalizações. Desta feita não estão a acontecer – por enquanto, pelo menos – em Portugal, mas sim nos Estados Unidos (com alguns países europeus a seguirem o exemplo). Afinal é na capital do Capitalismo que as nacionalizações voltam a "fazer sentido". Paradoxal? Nem tanto, acreditem!

As nacionalizações em Portugal foram consideradas por aqueles que as defenderam com uma medida necessária para fazer face à fuga de capitais. Para outros, provavelmente mais sinceros, era uma etapa que teria necessariamente de ser percorrida "rumo ao socialismo". Finalmente, para outros ainda (que não, necessariamente, os restantes), as nacionalizações foram, pura e simplesmente, uma usurpação do poder – logo, ilegítima – por parte da esquerda revolucionária (que, à época, era toda a esquerda).

No entanto, entre os que aceitam (sem tibiezas) o paradigma do sistema de economia de mercado, raros são os que classificam as actuais nacionalizações como uma usurpação do poder. Pelo contrário, acham-nas legítimas e até, tal como em 75, necessárias. Exceptuando os liberais radicais – os quais são, certamente, os únicos que achavam preferíveis os prejuízos decorrentes da bancarrota à intervenção do Estado na Economia – todos reconhecem que existem falhas no mecanismo de mercado que justificam uma regulação ou, ao menos, uma supervisão. Na ausência destas, as coisas podem descambar. E foi o que aconteceu no mercado financeiro.

A usurpação do poder também existe (aliás, sempre existiu) no Capitalismo. Já há cerca de 50 anos, um indefectível defensor da economia de mercado dizia (em tradução livre mas, no essencial, autêntica):

"Na empresa moderna, o poder decisivo, o dos gestores, não deriva de ninguém a não ser dos próprios gestores, controlados por nada e por ninguém e responsáveis perante ninguém. Trata-se, no sentido mais literal, de um poder infundado, injustificado, incontrolado e irresponsável."

Se é para combater gente sem escrúpulos que venham de lá essas nacionalizações.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Com base no real, com fé no ideal!

Por muito que isto possa chatear algumas pessoas, a verdade verdadinha é que Sócrates tem razão quando diz que não é com discursos miserabilistas que Portugal vai para a frente. Sempre que nos lamentamos da nossa triste sina, estamos afinal a perder o tempo que devíamos aproveitar para tentar mudar aquilo que nos desagrada. É sofrimento inútil.

Em contrapartida, uma atitude optimista ajuda a enfrentar adversidades e dá-nos força para alcançarmos as nossas metas. Porém, atenção: a força do optimismo não advém de ilusões ou de falsidades. A única atitude optimista com alguma probabilidade de sucesso é a realista, ou seja, aquela que está enquadrada na verdade. É bom que acreditemos que somos capazes, que tenhamos fé. Porém, para sermos capazes temos de, no mínimo, nos disponibilizar para lutar pelas coisas, corrigindo erros e suprindo lacunas. Posto isto, o optimismo que sobra – isto é, aquele que não satisfaz estes requisitos – é idiota e irresponsável. Quem fica à espera do bom sem mexer uma palha, normalmente sai-se mal. Como dizia Peter Drucker: "o maior defeito dos milagres é que não nos podemos fiar neles".

E é aqui que Sócrates perde a respeitabilidade. O optimismo que apregoa funda-se na intrujice. Tal como o Peter Pan parece recusar-se a crescer, preferindo um mundo de faz-de-conta – mas tremendamente consequente em aspectos nocivos – a dizer qualquer verdade que possa beliscar o seu narcisismo desmesurado. Se confrontado com ela reage com os rasgos de irritabilidade que lhe são peculiares, procurando de imediato eliminar o seu contendor através de um qualquer golpe baixo em geral alheio à crítica que lhe é dirigida, e fazendo com que o seu notável malabarismo verbal não possa ser considerado uma virtude.

A seu tempo Sócrates acabará por pagar caro por estas atitudes e, como dizia o outro, não havia necessidade. Na verdade, o Governo não é responsável por tudo quanto de mau nos acontece, até porque a capacidade deste para conduzir os destinos da nação é mais limitada – se bem que ainda significativa – que aquilo que a generalidade das pessoas pensa. Do mesmo modo, também apenas ocasionalmente pode reclamar como seus méritos que, muitas vezes, lhe são alheios. Exorbitando feitos que, ainda que positivos, não podem deixar de ser considerados medianos – como aconteceu recentemente com o computador "português" Magalhães (que, afinal, de português tem pouco e já existia desde 2006 noutros países que não o reclamaram como "seu") – acaba obtendo um efeito contrário ao ansiado.

Outro exemplo é a tão propagandeada redução episódica da taxa de desemprego numas míseras casas decimais. Sócrates só se esqueceu de referir que durante o seu governo cerca de 300 mil portugueses já emigraram.

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