sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Relações de Poder


A maioria das pessoas procura evitar situações de confronto com as chefias de uma forma quase intuitiva. Intuitiva sim, se bem que não inocente. Estar bem com os chefes proporciona um certo conforto, já que o seu oposto – a hostilidade da hierarquia – se traduz sempre em ameaça. Porém, alguns pretendem mais que meramente fugir ao desconforto. Pretendem sentir segurança, ou seja, procuram deliberadamente agradar para serem vistos como aliados. Mesmo que não apreciem todos os atributos dos superiores, preferem engolir em seco e disponibilizam-se para cooperar. Finalmente, há ainda aqueles que vêem na relação com os seus superiores o caminho mais óbvio para a sua própria ascensão. Estes vão mais longe: bajulam, esforçam-se para exibirem os seus talentos (se os tiverem) e, se necessário for, prontificam-se para cumplicidades pouco louváveis.
Do lado da hierarquia também há um pouco de tudo. Há os que ganharam a sua posição graças aos seus próprios méritos, por vezes remando contra a mediocridade e, invariavelmente, sofrendo os revezes decorrentes de ressentimentos e invejas dos que não evidenciam idênticas aptidões. Por regra, estes tendem a desprezar a mediocridade disfarçada de faz-de-conta; a apreciar o talento e qualidades genuínas dos seus subordinados; e preferem a competência crítica à bajulação hipócrita. Noutro patamar, existem chefes que combinam dois tipos de atributos: competência técnica (o que não implica, necessariamente, genialidade); e inteligência emocional (que lhes permitiu subirem na hierarquia sem fazerem muitas ondas e, fundamentalmente, sem hostilizarem as respectivas chefias). Normalmente desempenham de forma minimamente capaz os respectivos cargos mas revelam uma séria limitação: sentem-se inseguros quando alguém ousa brilhar mais do que eles, tendendo a atacar os subordinados que evidenciam talento ou instinto de liderança que os possa ofuscar. Finalmente, existem aquelas chefias que nunca o deveriam ser. Enquanto subordinados integraram o grupo dos bajuladores, dos sem escrúpulos ou dos que realizaram trabalhos sujos por conta de anteriores chefes. Normalmente não se destacam pelos seus atributos técnicos, mesmo que os tenham, mas sim por se revelarem sobredotados a montar ardis, a desenvolverem teias de cumplicidades e a executarem golpadas. Para eles, os fins sempre justificam os meios, por mais odiosos que sejam.

Em Portugal já tivemos estes três tipos de lideranças. A um nível superior tivemos alguém que, em duplo paradoxo, ascendeu à liderança por sucessão dinástica mas que, tal como a pescada, antes de ser Rei já o era e muito teve de fazer para preservar tal condição: D. João II. A um nível intermédio podemos enumerar Cavaco Silva. Desempenhou razoavelmente o seu cargo de Primeiro-Ministro, mas correu com todos quantos ousaram discordar ou fazer-lhe sombra: Miguel Cadilhe, Álvaro Barreto, Santana Lopes e Teresa Patrício Gouveia. Como líder que nunca o deveria ter sido temos… Sócrates.

Notas:

As imagens foram colhidas nos sítios para os quais apontam as respectivas hiperligações;
Publicado na edição de 19Fev2010 do Jornal Brados do Alentejo.

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