sexta-feira, 5 de março de 2010

Tão amigos que nós éramos…


Quem não sentiu ainda o travo de uma amizade traída? Dado que a deslealdade não parece compatível com a amizade, muitos são aqueles que concluem, depois, que a pessoa tida por amiga, afinal, não o era verdadeiramente. Não é?
Todavia, esta pode ser uma conclusão precipitada. As relações humanas são complexas e o conceito de amizade não é entendido do mesmo modo por todos. Não só o antigo amigo pode nem sequer achar que foi desleal; como podem não existir razões objectivas para duvidar de todo um passado de amizade até ao momento da… alegada traição.
Há quem diga que "os amigos são para as ocasiões", expressão que, quando devidamente interpretada, denuncia a existência de interesse no cultivo das amizades. Outros, quando não os mesmos, já dizem "amigos amigos, negócios à parte", expressão que recomenda prudência quando se misturam relações pessoais com interesses de outra natureza. Nesta linha, houve quem recomendasse uma clara separação de águas: "guarde os amigos para a amizade; para o trabalho prefira os competentes e capazes".
Por vezes, confundem-se alianças tácticas na prossecução de interesses comuns com aquilo que habitualmente se considera a verdadeira amizade, a qual assenta muito mais em afinidades pessoais. São as amizades maçónicas, fundadas na mera troca de interesses. Dá-se agora para se receber depois, em suma, investe-se. O problema reside no facto de que quanto maior for o favor, maiores são os "encargos futuros" que oprimem os destinatários e, neste sentido, menor gratidão receberá em troca, já que estes, percebendo a lógica do sistema, acabam por sentir-se desobrigados de retribuir se também eles não acreditarem vir a colher os benefícios de tal retribuição.
Os "companheiros de luta", ou seja, aqueles que trilham connosco determinados percursos das nossas vidas, a quem confidenciamos anseios e com quem partilhamos angústias, poderão ser, afinal, aliados e não necessariamente amigos. Não confundir: perante adversários e objectivos comuns as pessoas tendem a unir-se. Porém, esquecemo-nos muitas vezes que eles poderão não estar exactamente na mesma situação que nós... nesse caso, a relação de proximidade pode criar condições propícias para que ambicionem aquilo que nós já temos ou então aquilo que também nós ambicionamos e estamos mais próximos de conseguir. Sempre que haja lugar à aplicação do princípio da exclusão, ou seja, sempre que o objecto do desejo não seja susceptível de satisfazer de igual modo – e em simultâneo – duas ou mais pessoas, cuidado, muito cuidado, a traição pode estar iminente.
Pergunta final: deverá Aguiar Branco sentir-se traído por Paulo Rangel? Resposta: não sei nem me interessa. A minha amizade política vai para alguém que José Sócrates teme e que, por isso mesmo, finge deliberadamente ignorar: Pedro Passos Coelho.

Publicado na edição de 04Mar2010 do Jornal Brados do Alentejo
As imagens foram colhidas nos sítios para os quais apontas as respectivas hiperligações.

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