Os resultados eleitorais do passado fim-de-semana suscitam-me três comentários.
Primeiro: as sondagens. Errar em cerca de 10 pontos percentuais no resultado final é algo de desolador e nada abonatório. As instituições que realizam sondagens, enquanto centros de matemática aplicada, têm uma imagem e um prestígio a defender. Não o fizeram nestas eleições, tal como já não o tinham feito em eleições anteriores. Se a inferência estatística é uma técnica consolidada que, invariavelmente, conduz a resultados precisos, tais erros só podem ser explicados por partirem de amostras que não são representativas do universo que se pretende estudar. O erro, como está bem de ver, não advém da Matemática, como prova o facto de as sondagens feitas "à boca das urnas" não terem errado. O que não pode continuar a aceitar-se é que as empresas de sondagens limitem as suas consultas a telefonemas para a rede fixa. Ficou por demais demonstrado que as pessoas que estão em casa, às horas dos telefonemas, não representam fidedignamente o universo eleitoral.
Segundo: os resultados nos meios rurais. O concelho de Estremoz constitui um bom exemplo de como, qualquer que seja o ângulo de análise, a pressão social exercida sobre os habitantes das comunidades rurais é deveras mais opressiva que aquela que igualmente existe nos meios urbanos. Na política, nos meios pequenos, as pessoas têm maior dificuldade em exercitar o voto consciente, preferindo, inúmeras vezes, a tranquilidade do voto conveniente ou o sossego da abstenção. Teme-se pelos empregos, teme-se pelo evoluir dos pequenos negócios, chega a temer-se a mera desconformidade com aquilo que se pensa ser a onda dominante. Se juntarmos a isto o olhar "controleiro" dos caciques locais, onde se insinuam ameaças veladas, então o desvio entre aquilo que se intimamente se sente e a opinião que se expressa pode atingir dimensões consideráveis.
Terceiro: a Esperança. Creio que a Esperança foi, afinal, a única vencedora destas eleições. Uma vez mais ficou provado que, em Democracia, a opinião das pessoas conta verdadeiramente. Sócrates, o homem que, qual imperador romano, não recebe lições de ninguém e se diverte a atirar certos grupos sociais às feras, sentiu na pele que os seus tiques salazarentos já não rendem como renderam no início do seu mandato. O eleitorado fartou-se de tanta arrogância, da bazófia e da governação de faz-de-conta. E fez muitíssimo bem. Afinal, tal permitiu às pessoas perceberem novamente que têm força para correr com as figuras políticas que consideram detestáveis. Sócrates diz que não vai mudar nada e que ainda ficará mais determinado. OK. Espero pois que o eleitorado, agora que já sabe a força que tem, também fique determinado em lhe dar o pontapé na massa da albarda que ele merece.
Nota final: repararam na voz embirrante de Lurdes Rodrigues? "Deixem-me passar…". Deixamos sim… para a rua.
Publicado na edição do Brados do Alentejo de 12 de Junho de 2009
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