John Fitzgerald Kennedy terá dito um dia que a palavra crise em chinês é composto por dois ideogramas, sendo que o primeiro se traduz por "perigo" e o segundo por "oportunidade". No caso português, para além de todos os riscos que se correm em cenário de crise económica generalizada, acresce o "perigo" de sermos governados por pessoas para quem a propaganda, as aparências e o faz-de-conta valem sempre mais que a divulgação da realidade que permite às pessoas tomarem decisões racionais. Portanto, a primeira prioridade é falar verdade aos portugueses.
Por outro lado, impõe-se dizer que a crise nacional precedeu a crise internacional. Bem antes de a situação se agravar para a generalidade dos europeus, já nós, portugueses, andávamos a "patinar" há bastante tempo. Existe um desequilíbrio estrutural na economia portuguesa para o qual tem que ser encontrada uma resposta. Sempre que o rendimento cresce – de forma real ou artificial – a consequência mais imediata é o crescimento das importações ter maior expressão que o crescimento das exportações, gerando um défice externo insustentável que propicia condições para o surgimento da crise seguinte. Portanto, a prioridade das políticas públicas deve estar mais orientada para a substituição das importações. Há que robustecer a economia doméstica.
Terceira medida: prevenir a crise social latente. Governar para as pessoas é apoiar os mais desprotegidos no momento em que mais precisam. Pior que não criar riqueza é permitir sentimentos de injustiça social, que derivam da constatação de existirem pessoas que se permitem realizar gastos em bens de luxo e sumptuosos enquanto outros passam sérias dificuldades. O problema agrava-se quando se vêem dirigentes – públicos e privados – beneficiarem com o despedimento das pessoas, como se fossem descartáveis. Dispensaram-se funcionários públicos – os mobilizados, alguns dos quais não auferem sequer o salário mínimo – mas mantêm-se mordomias a certas elites completamente injustificadas. Uns trabalham toda a vida sem conseguirem garantir a reforma por inteiro, enquanto outros adquirem tal direito após alguns meses de contribuições.
Concluo com a referência à oportunidade que coexiste com a crise: este é ano de eleições!
Publicado na edição de 23Abr2009, na secção "Mesa Redonda", do Jornal Ecos.
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