domingo, 24 de janeiro de 2021

Será que é desta?

 

Curioso: ainda não consegui, até à presente data, votar num candidato presidencial que, com o contributo do meu voto, se tenha tornado Presidente da República. Até aqui, ou acerto ao lado ou, como já aconteceu por várias vezes, nem sequer disparo.

1976

A primeira eleição presidencial da terceira república foi a de 1976. Se já tivesse idade para isso, votaria em Ramalho Eanes. Aliás, seria também a única vez em que o sentido de voto do meu município seria coincidente com o meu. Mas pronto, tive de esperar.

1980


Em 1980, confesso que não me recordo se votei efetivamente ou se tive problemas com o recenseamento eleitoral. Sei que, pelo menos numa das eleições desse ano, não consegui votar porquanto havia feito 18 anos em agosto e, em outubro, data da vitória de Sá Carneiro e da Aliança Democrática nas eleições legislativas, os cadernos eleitorais ainda não estavam atualizados. Porém, em dezembro, aquando das presidenciais, penso que já votei… mas, enfim, não estou em condições de jurar.

Se votei, votei em Soares Carneiro. Não por ele, mas porque tinha a certeza de que Sá Carneiro mandaria abaixo o recém-empossado governo da AD caso Eanes ganhasse a 7 de dezembro. Sá Carneiro e Amaro da Costa, os meus dois maiores ídolos da minha juventude política morreram a 4 de dezembro, o segundo porque foi assassinado e o primeiro de “acidente” porque ia com o outro no mesmo avião. De qualquer modo, o governo da AD continuou, mas já com Pinto Balsemão a liderá-lo.

Em Estremoz, como de resto em todo o país, o vencedor foi igualmente Ramalho Eanes.

1986


Em 1986 foi a única vez em que as presidenciais decorreram em duas voltas.

A 26 de janeiro, data da 1.ª volta, votei em Freitas do Amaral, o vencedor derrotado na 2.ª volta. Em Estremoz, claro, ganhou outro derrotado: Salgado Zenha.

A 16 de fevereiro, na 2.ª volta, voltei a votar em Freitas, porém quem ganhou foi aquele que também em Estremoz foi o mais votado: Soares.

1991


Em 1991, Miguel Esteves Cardoso, através dum suplemento do semanário O Independente (já não me recordo como se chamava), publicou uma coletânea de autocolantes satíricos para colocar no boletim de voto. Dessa eleição, a única coisa que recordo foi que demorei muito tempo a votar, mas o esforço foi compensado: consegui colar todos os autocolantes (sem bem que tive alguma dificuldade a fazer as duas dobras no boletim de voto).

Em Estremoz, como de resto em todo o país, o vencedor foi Mário Soares.

1996


Em 1996 votei em Cavaco Silva. Perante a alternativa, que vi como representando os “betos de esquerda”, achei a escolha certa. Mais tarde acabei por desenvolver um ranço tão grande por Cavaco Silva que hoje me sinto um pouco acabrunhado ao admitir que votei nele. Mas, enfim, as coisas devem ser sempre contextualizadas e, por conseguinte, tenho de assumir que o sentido do meu voto correspondeu ao meu sentimento na época.

Ah, já esquecia, em Estremoz ganhou Sampaio.

2001

 
Não, definitivamente não me revia em Jorge Sampaio… o homem tinha vindo do MES (se bem que este partido fosse, durante o PREC, o mais moderado do partidos de esquerda), juntando a isso uma mescla de catolicismo progressista com movimentos universitários (que integravam os meninos privilegiados doutros tempos), não ia à bola comigo.

Achei Ferreira do Amaral uma melhor escolha, não só porque tinha sido um bom Ministro do Comércio e Turismo (das Obras Públicas, por essa altura, ainda não dava para avaliar…), como, apesar de, tal como Sampaio, provir de famílias distintas, tinha a seu favor o facto de não se ter furtado ao serviço militar e ter estado em cenário de guerra (colonial), exatamente como estiveram os filhos das famílias comuns que não se conseguiam esquivar. Parecendo que não, para mim estes pequenos detalhes contam.

Em Estremoz, ganhou Sampaio.

2006

Confesso que não me recordo se fui votar ou se – e, nesse caso, pela 1.ª vez – me abstive. Do mesmo modo, votando, também não sei se foi em branco ou fiz algum desenho no boletim de voto. Recordo, sim – e aí muito claramente – que tive saudades do Miguel Esteves Cardoso e dos autocolantes do Independente.

Em Estremoz ganhou Cavaco.

2011


Está visto que a minha memória recente está pior que a de mais longo prazo. Só sei que não votei em nenhum destes candidatos. Não me lembro de que forma exprimi a minha indignação (abstenção, branco ou desenho).

Admito, todavia, que houve um candidato que quase me tentou: Fernando Nobre.

Em Estremoz ganhou o Sr. Silva (como lhe chamava, por esta altura, Alberto João Jardim).

2016


E pronto, chegámos à eleição antes desta (que dentro de horas começa).

Votei naquele que me pareceu o melhor, mais sério e mais bem preparado candidato: Henrique Neto. Achei que a visão empresarial se coadunava melhor com o cargo de presidente que a de “pregador de Domingo” (recordam-se de quem lhe chamou assim?)

Em Estremoz ganhou Marcelo.

2021


Daqui a algumas horas vou votar em Marcelo Rebelo de Sousa. A minha questão é se vou votar pela 1.ª vez num candidato vencedor. Acho que sim… mas deixa lá ver primeiro os resultados.

O meu entusiasmo é similar à forma como Nuno Krus Abecassis presidia à Câmara de Lisboa: a maior parte das vezes dormitava, algumas vezes dormia mesmo e, de quando em vez, chegava mesmo a soltar um ronco ressonante.

Acho uma certa piada a Marcelo – em especial, achei, quando chegou a um acidente na marginal do Estoril antes do INEM – mas acho que falhou, muito mesmo, no episódio da nomeação do Procurador Europeu que está a envergonhar Portugal.

Porém, perante as alternativas, sempre sou capaz de considerá-lo o menos mau… ou, talvez, o menos nocivo.

Passo a explicar: considero o discurso do Tiago Mayan muito consistente e acertado, em especial, quando ilustra o percurso de (sub)desenvolvimento de Portugal no quadro da União Europeia. Mas não chega para votar nele. Sou social democrata, liberal e reformista; ele é só liberal.

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