Curioso: ainda não consegui, até à presente data, votar num
candidato presidencial que, com o contributo do meu voto, se tenha tornado Presidente
da República. Até aqui, ou acerto ao lado ou, como já aconteceu por várias
vezes, nem sequer disparo.
1976
A primeira eleição presidencial da terceira república foi a
de 1976. Se já tivesse idade para isso, votaria em Ramalho Eanes. Aliás, seria
também a única vez em que o sentido de voto do meu município seria coincidente
com o meu. Mas pronto, tive de esperar.
1980
Em 1980, confesso que não me recordo se votei efetivamente
ou se tive problemas com o recenseamento eleitoral. Sei que, pelo menos numa das
eleições desse ano, não consegui votar porquanto havia feito 18 anos em agosto
e, em outubro, data da vitória de Sá Carneiro e da Aliança Democrática nas
eleições legislativas, os cadernos eleitorais ainda não estavam atualizados.
Porém, em dezembro, aquando das presidenciais, penso que já votei… mas, enfim,
não estou em condições de jurar.
Se votei, votei em Soares Carneiro. Não por ele, mas porque
tinha a certeza de que Sá Carneiro mandaria abaixo o recém-empossado governo da
AD caso Eanes ganhasse a 7 de dezembro. Sá Carneiro e Amaro da Costa, os meus
dois maiores ídolos da minha juventude política morreram a 4 de dezembro, o
segundo porque foi assassinado e o primeiro de “acidente” porque ia com o outro
no mesmo avião. De qualquer modo, o governo da AD continuou, mas já com Pinto
Balsemão a liderá-lo.
Em Estremoz, como de resto em todo o país, o vencedor foi
igualmente Ramalho Eanes.
1986
Em 1986 foi a única vez em que as presidenciais decorreram
em duas voltas.
A 26 de janeiro, data da 1.ª volta, votei em Freitas do
Amaral, o vencedor derrotado na 2.ª volta. Em Estremoz, claro, ganhou outro
derrotado: Salgado Zenha.
A 16 de fevereiro, na 2.ª volta, voltei a votar em Freitas,
porém quem ganhou foi aquele que também em Estremoz foi o mais votado: Soares.
1991
Em 1991, Miguel Esteves Cardoso, através dum suplemento do
semanário O Independente (já não me recordo como se chamava), publicou uma
coletânea de autocolantes satíricos para colocar no boletim de voto. Dessa
eleição, a única coisa que recordo foi que demorei muito tempo a votar, mas o
esforço foi compensado: consegui colar todos os autocolantes (sem bem que tive
alguma dificuldade a fazer as duas dobras no boletim de voto).
Em Estremoz, como de resto em todo o país, o vencedor foi
Mário Soares.
1996
Em 1996 votei em Cavaco Silva. Perante a alternativa, que vi
como representando os “betos de esquerda”, achei a escolha certa. Mais tarde
acabei por desenvolver um ranço tão grande por Cavaco Silva que hoje me sinto
um pouco acabrunhado ao admitir que votei nele. Mas, enfim, as coisas devem ser
sempre contextualizadas e, por conseguinte, tenho de assumir que o sentido do
meu voto correspondeu ao meu sentimento na época.
Ah, já esquecia, em Estremoz ganhou Sampaio.
2001
Não, definitivamente não me revia em Jorge Sampaio… o homem
tinha vindo do MES (se bem que este partido fosse, durante o PREC, o mais
moderado do partidos de esquerda), juntando a isso uma mescla de catolicismo
progressista com movimentos universitários (que integravam os meninos
privilegiados doutros tempos), não ia à bola comigo.
Achei Ferreira do Amaral uma melhor escolha, não só porque
tinha sido um bom Ministro do Comércio e Turismo (das Obras Públicas, por essa
altura, ainda não dava para avaliar…), como, apesar de, tal como Sampaio,
provir de famílias distintas, tinha a seu favor o facto de não se ter furtado ao
serviço militar e ter estado em cenário de guerra (colonial), exatamente como
estiveram os filhos das famílias comuns que não se conseguiam esquivar. Parecendo
que não, para mim estes pequenos detalhes contam.
Em Estremoz, ganhou Sampaio.
2006
Confesso que não me recordo se fui votar ou se – e, nesse
caso, pela 1.ª vez – me abstive. Do mesmo modo, votando, também não sei se foi
em branco ou fiz algum desenho no boletim de voto. Recordo, sim – e aí muito
claramente – que tive saudades do Miguel Esteves Cardoso e dos autocolantes do
Independente.
Em Estremoz ganhou Cavaco.
2011
Está visto que a minha memória recente está pior que a de
mais longo prazo. Só sei que não votei em nenhum destes candidatos. Não me
lembro de que forma exprimi a minha indignação (abstenção, branco ou desenho).
Admito, todavia, que houve um candidato que quase me tentou:
Fernando Nobre.
Em Estremoz ganhou o Sr. Silva (como lhe chamava, por esta
altura, Alberto João Jardim).
2016
E pronto, chegámos à eleição antes desta (que dentro de
horas começa).
Votei naquele que me pareceu o melhor, mais sério e mais bem
preparado candidato: Henrique Neto. Achei que a visão empresarial se coadunava
melhor com o cargo de presidente que a de “pregador de Domingo” (recordam-se de
quem lhe chamou assim?)
Em Estremoz ganhou Marcelo.
2021
Daqui a algumas horas vou votar em Marcelo Rebelo de Sousa.
A minha questão é se vou votar pela 1.ª vez num candidato vencedor. Acho que
sim… mas deixa lá ver primeiro os resultados.
O meu entusiasmo é similar à forma como Nuno Krus Abecassis
presidia à Câmara de Lisboa: a maior parte das vezes dormitava, algumas vezes
dormia mesmo e, de quando em vez, chegava mesmo a soltar um ronco ressonante.
Acho uma certa piada a Marcelo – em especial, achei, quando
chegou a um acidente na marginal do Estoril antes do INEM – mas acho que
falhou, muito mesmo, no episódio da nomeação do Procurador Europeu que está a
envergonhar Portugal.
Porém, perante as alternativas, sempre sou capaz de considerá-lo
o menos mau… ou, talvez, o menos nocivo.
Passo a explicar: considero o discurso do Tiago Mayan muito
consistente e acertado, em especial, quando ilustra o percurso de (sub)desenvolvimento
de Portugal no quadro da União Europeia. Mas não chega para votar nele. Sou
social democrata, liberal e reformista; ele é só liberal.