Vi e ouvi a entrevista a Pedro Passos Coelho no programa Sinais de Fogo de Miguel de Sousa Tavares. Embora admita que outros tenham interpretado de forma diversa as palavras proferidas, devo dizer que, para mim, a prestação do entrevistado foi magistral, brilhante. Teve o dom de nos permitir ver para além da bruma, conferindo-nos a esperança de que há outros caminhos (ainda não trilhados) para sairmos da desconfortável situação em que nos encontramos. Por outro lado, teve também o mérito de ter conseguido desmistificar o papão liberal, como se alguma vez ele tivesse preconizado um Estado lassez-faire, do tipo salve-se quem puder. Pelo contrário, defendeu clara e energicamente um Estado regulador, um Estado Social no apoio a quem verdadeiramente precisa e, bem assim, assumiu-se um firme opositor aos monopólios artificiais criados pelo Estado, bem como às negociatas escandalosas que a actual situação de penumbra sempre permite.
Depois de ter tomado contacto com algumas reacções de amigos e conhecidos, confesso que fiquei surpreendido com a surpresa de alguns. Vou explicar-me melhor: algumas dessas pessoas ficaram agradavelmente surpreendidas com a prestação de Passos Coelho, reconhecendo-lhe pela primeira vez alguns dos méritos que, em boa verdade, sempre teve. A mim, o que me surpreendeu foi justamente só terem percepcionado tais qualidades agora e não antes, por exemplo, há dois anos atrás. No entanto, bem vistas as coisas, até faz sentido: Passos Coelho é também vencedor por ter conseguido sobreviver a uma das mais violentas campanhas descredibilizadoras alguma vez movidas contra um político dentro do seu próprio partido. Valeu tudo: apontaram-lhe incongruências no discurso (que nunca existiram); que era plástico como a Barbie (bonito por fora e oco por dentro); disseram que estava acompanhado de gente de má índole e, finalmente, quanto todos os outros argumentos falhassem, restava sempre o anátema de liberal, procurando com este rótulo fazer dele o maior reaccionário de Portugal.
O curioso é que apesar das más intenções da acusação, Passos Coelho não se deixou descaracterizar e, a par de se considerar social-democrata e reformista, nunca recusou o rótulo de liberal. E porquê? Porque o conceito europeu de liberal – conceito que foi corrompido do lado de lá do Atlântico – é primeiro político e humanista (decorre da liberdade humana) e só depois é também económico. E ser liberal em termos económicos (na Europa) apenas significa isto: ao Estado o que é do Estado; aos privados o que é dos privados. O que não cabe dentro desta definição é o Estado proporcionar bons negócios a meia dúzia de bons amigos para que estes enriqueçam à custa de todos nós.
Pedro Passos Coelho, com elevação e integridade de carácter, resistiu a tudo. Não cedeu à tentação de querer parecer bem ou dizer apenas aquilo que era politicamente mais conveniente. Merece confiança.
Notas:
A foto foi obtida no sítio para o qual aponta a respectiva hiperligação.
Publicado na edição de 15 de Abril do Jornal Brados do Alentejo
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