Aquilo que é evidente não carece de demonstração já que… é óbvio. A uma afirmação deste tipo – tecnicamente designada de truísmo – chamamos comummente "uma verdade de La Palice" (ou de La Palisse, o tal Marechal francês que "pouco antes de morrer, ainda vivia"). Vamos agora colocar ao contrário a proposição inicial: tudo quanto não é óbvio carece de demonstração. Ora, se os sentidos das duas expressões são opostos então, logicamente, também os comportamentos que lhes estão associados deveriam ser diferentes. Certo? Pois bem, nem sempre. O que não falta é quem perante realidades não evidentes, portanto complexas, se limite a produzir afirmações gratuitas, ainda que categóricas, sem se dar ao trabalho de demonstrar que as mesmas são autênticas.
Talvez com alguns exemplos eu consiga fazer passar melhor a mensagem central da presente crónica. Vamos ser razoáveis, se você disser que se deixar cair um ovo de galinha ele se parte ao embater no solo, talvez não precise de o demonstrar para que as pessoas acreditem em si. O que não faltarão são pessoas que podem testemunhar que presenciaram situações similares. Anormal seria o ovo não se partir. Agora diga-me uma coisa: já alguma vez comprou uma casa a uma empresa sedeada num espaço off shore (aqueles paraísos fiscais onde repousa dinheiro de que não se sabe quem é o dono)? Não? Olha que estranho! Nem conhece ninguém (na família ou entre amigos) que tenha comprado? Não? Então se calhar isto não é normal, logo, não é coisa evidente. Bom, mas deve estar farto de saber que habitualmente as pessoas vendem as casas por um valor menor que aquele que despenderam por elas, em especial quando o vendedor é uma empresa que visa o lucro? Também não? Bom, isto está difícil. Se calhar estamos perante uma situação que não só não é evidente como também apresenta indícios contraditórios com a ideia intuitiva que temos de empresa. Ora aqui está uma daquelas situações em que se queremos que as pessoas acreditem na nossa boa-fé e na nossa integridade moral, então vamos ter de nos disponibilizar, humildemente, para explicar tudo tintim-por-tintim.
Posto isto, o cidadão comum tem de aprender a defender-se. Assim, para aqueles que se recusam a demonstrar aquilo que carece de demonstração, sugiro as seguintes regras práticas: se dizem que são credíveis, é porque podem não o ser; se dizem que falam verdade, é porque podem estar a mentir; se acusam os outros de politiquice, é porque podem ser eles os politiqueiros; se passam a vida a culpar os outros é porque, atenção, podem ser eles mesmo os culpados.
1 Comentários:
Há muito tempo que fazemos de conta que nada acontece. Ainda alguém se lembra do caso do “FAX de Macau”, dos idos anos 90? Aos que se interessam por estas histórias de corrupção e jogos de influência, recomendo o livro “Contos Proibidos - Memórias de um PS desconhecido”
Pode ser feito o seu download no seguinte link:
http://rapidshare.com/files/40866664/Contos_Proibidos.pdf
Escrito pelo ex-deputado e ex-dirigente do PS - Rui Mateus. Contado, por tanto, na primeira pessoa e muito bem documentado, com fotografias da época e com 47 anexos que são cópias de documentos, como recibos, cartas, etc.
É um livro que ninguém desmentiu.
Conta toda a história do PS desde a sua fundação em 1973 até 1996, altura em que foi escrito.
Foi escrito por Rui Mateus, que ajudou a fundar o PS com o Mário Soares e outros, mas depois foi afastado.
A digitalização não está grande coisa, mas dá para ler.
Aproveito para informar que o primeiro e talvez o segundo capítulo são um pouco “chatos” ou difíceis de ler, o que pode desmotivar a leitura dos restantes.
No entanto, à medida que se avança, começa a haver relatos de jogos de poder e aldrabices, envolvendo as mais conhecidas personalidades do PS. Relatos esses muito bem referenciados (livros escritos por outro autores, jornais, revistas, actas de reuniões, etc.) e com cópias de documentos nos anexos do livro, que os tornam credíveis (ou pelo menos confirmáveis). E tornam o livro muito interessante.
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