Comecemos pelo princípio: o Rossio não precisa de uma "solução arquitectónica"! Arquitectura já a tem (na envolvente) e, sublinhe-se, está de acordo com aquilo que constitui a identidade de Estremoz: uma organização urbana estruturada em espaços amplos, desafogados, onde sempre se circulou de forma desimpedida. Precisará, sim, de uma intervenção urbanística mas, mesmo essa, não deverá preceder a resolução de problemas conexos com o uso que actualmente se faz daquela praça, como sejam as questões relacionadas com a mobilidade, com o estacionamento ou com as actividades económicas que nele se desenvolvem. Por conseguinte, quem avança para um concurso público internacional de concepção sem antes acautelar os problemas associados está, a nosso ver, a começar "a casa pelo telhado".
O Rossio é a sala de visitas da cidade, um salão de festas, um espaço de passeio público, um local de convívio entre diferentes gerações dos nossos concidadãos e, finalmente, constitui o cenário no qual se desenvolvem os eventos mais emblemáticos de Estremoz: o Mercado Tradicional associado à (mais recente, de geração espontânea) Feira de Velharias. Logo, deverá estar equipado com o adequado mobiliário urbano que o valorize, assim como devem estar asseguradas as condições propiciadoras à prossecução dos seus fins. A acessibilidade ao Rossio, tal como a mobilidade na sua envolvente, deve ser escorreita. O estacionamento desordenado – em última análise, o próprio estacionamento – constitui um óbice que tem que ser previamente resolvido. Portanto, Estremoz tem outras prioridades que, passe o pleonasmo, precedem a intervenção urbanística no Rossio.
Há mais onde se investir. Se o que se pretende é a valorização da cidade, então não pode permitir-se, por exemplo, a perpetuação de uma espécie de "terminal TIR" junto às Portas de Santa Catarina, nem deixar para nunca mais o adequado arranjo urbanístico das áreas envolventes das Muralhas até à zona do Caldeiro. Há mais a salvaguardar em termos urbanísticos. É preciso preservar a identidade de Estremoz através de planos de pormenor estruturantes que impeçam a proliferação de loteamentos "desenhados" em função dos limites das propriedades a urbanizar.