A perda do núcleo museológico da CP é algo que lamento profundamente mas que não me surpreende. O que me surpreendeu foi a polémica em torno da discussão deste assunto só agora ter surgido. De facto, esta perda já era expectável desde que o anterior executivo classificou a linha do caminho-de-ferro como “um garrote ao desenvolvimento da malha urbana” e, por conseguinte, como uma barreira física a eliminar. Quando soube de tal intenção pronunciei-me publicamente contra tal perspectiva no jornal Ecos, em Agosto de 2007, onde comparei a remoção da linha férrea à destruição da secção nordeste da muralha setecentista, justa e ironicamente, por esta, à época, também ter sido considerada um espartilho ao desenvolvimento urbano que impedia o acesso às ferrovias.
No ano passado, na reunião do dia 11 de Agosto, voltei a pronunciar-me contra a eliminação física da linha férrea, em protesto que consta da acta da sessão, defendendo que a regeneração urbana daquela zona da cidade era compatível com a manutenção de alguns carris para potenciar o seu aproveitamento turístico. Finalmente, na última reunião de câmara voltei a ser eu, uma vez mais, a pronunciar-me no mesmo sentido e foi na sequência dessa minha intervenção que a dita polémica se despoletou.
Ora, não podem agora os eleitos do PS dar ares de dama ofendida com este desfecho quando, na verdade, são os principais responsáveis pela situação que lhe deu origem. De facto, se há coisa que caracteriza o actual executivo é não apresentar ideias próprias, limitando-se a pôr no terreno, de forma acrítica, alguns projectos definidos no anterior mandato.
- Opinão publicada no Jornal E
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