quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Larga que é ladrão!


A tradição já não é o que era. Aquele ladrão de antigamente que actuava desarmado e cujo propósito se cingia a apropriar-se dos bens alheios está a desaparecer. Hoje, um ladrão é também, potencialmente, alguém que, sem rebuços, atenta contra a integridade física das suas vítimas se as coisas não lhe correrem de feição no decurso do assalto. Portanto, neste contexto, a única atitude inteligente que qualquer vítima de roubo pode ter é, pura e simplesmente, não resistir. É menos heróico mas é também, seguramente, mais saudável.


Muitas são as explicações aventadas para justificar o crescimento da criminalidade violenta. Normalmente refere-se a crise económica e social, destacando-se o desemprego, o materialismo das pessoas, a displicência das autoridades, a ineficácia do sistema judicial, etc., etc. Enfim, se calhar todas as causas apontadas terão, em maior ou menor grau, a sua quota-parte de responsabilidade. Porém, hoje proponho-me reflectir sobre um ingrediente invariavelmente presente em contextos de violência: a agressividade.


A agressividade é uma força instintiva que, como outras, é inata a todos os seres humanos. Mesmo nas crianças na primeira infância – às quais está associada uma imagem angelical de grande doçura – é perceptível tal instinto agressivo (se bem que com diferentes graus de evidência). Ainda que isto possa causar espanto e desorientação nas pessoas, a verdade é que a agressividade constitui um fenómeno natural, o qual está directamente associado ao instinto de sobrevivência. A questão não se coloca, afinal, na origem da agressividade – já que esta evidencia-se, naturalmente e sob várias formas (verbal, física, moral), sempre que nos sentimos em perigo – mas sim no que fazer com ela, como esta deve ser moldada e canalizada para realizações positivas. É aqui que os factores educacionais e afectivos são decisivos. Por volta dos 14 anos – altura em que quando um jovem diz "eu", significa mesmo "ele" (não o pai, a mãe ou qualquer grupo que sobre ele exerça influência) – a assimilação de valores estruturantes da personalidade deve estar tão concluída quanto possível.


Vou dar um exemplo de como pode ser diferente a gestão das emoções e dos instintos durante a formação da personalidade. Na minha geração os jovens liam muitas histórias aos quadradinhos. Não eram pérolas literárias, mas tinham inequivocamente uma virtude: o protagonista da história – fosse ele o Rip Kirby, o Fantasma ou o Mandrake – era sempre o bom e combatia o mal e os malfeitores. Hoje, as crianças não lêem histórias aos quadradinhos; divertem-se com jogos de vídeo que exploram um caldo de emoções (no qual está incluída a agressividade). O problema é que aqui, por vezes, o herói é um espécime do piorio: pratica car jacking, passa semáforos vermelhos, atropela pessoas, esfaqueia-as ou mata-as com uma AK47.

1 Comentários:

morski pas disse...

E viva o desenvolvimento....
Também hoje se nota a vontade dos actuais progenitores quererem oferecer tudo que nunca tiveram hipotese de alcançar (Computadores, Playstation, tudo que se possa imaginar e comprar)
E aqui está o exagero do consumismo que serve para se poderem afirmar perante uma sociedade em várias vertentes...
Vejamos.... Hoje é vergonhoso para um pai/mãe, não ter dinheiro para comprar o ultimo modelo da playstation ao seu filho, pois o vizinho ja adquiriu uma, e até nem era altura do Natal....é uma vergonha....portanto, lá se recorre a mais um crédito que vai diminuir o seu rendimento mensal....por outro lado...também é bom ter as criancinhas ocupadas com algo que as distraia, sem ter que se preocupar em demasia...
Gosto particularmente de ler um mail que por ai circula do Nuno Markl (se não estou em erro), onde relata as brincadeiras que se inventavam na altura (na minha pelo menos), as patifarias que faziamos etc etc etc...Mas com muito mais estilo e inteligência!!!!!

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