domingo, 25 de maio de 2008

Comércio aos Domingos

Tapar o Sol com uma peneira é daquelas acções que toda a gente reconhece como pouco eficazes mas que, ainda assim, alguns aproveitam para, hipocritamente, darem a ideia de sempre terem tentado fazer alguma coisa. Quando o então Secretário de Estado do Comércio do primeiro governo de Guterres, Manuel dos Santos, impôs o encerramento das grandes superfícies comerciais aos domingos à tarde, era evidente para todos – incluindo para o próprio – que não seria tal medida que iria impedir o declínio do denominado "comércio tradicional".

As mutações sociais e organizativas transformaram o fenómeno da distribuição, dando azo ao surgimento de novas formas de organização do comércio, o qual, invariavelmente, tem tanto mais sucesso quanto mais for de encontro às necessidades e anseios dos consumidores. Hoje, para além dos hiper e dos supermercados, existem lojas de desconto, lojas de conveniência (aquelas que estão abertas quando as outras estão encerradas), outlets (áreas comerciais assentes na venda de marcas de referência com fortes descontos), category killers (supermercados especializados como o AKI, a STAPLES ou a VOBIS). E não se pense que por não existirem alguns dos estabelecimentos citados em Estremoz que os nossos conterrâneos deixam de lá ir.

Neste contexto, o "comércio tradicional" – no sentido da sua não evolução – há muito que tem anunciado o dobre de finados. O pequeno retalho que hoje sobrevive é justamente aquele que evoluiu, que se organizou na área do aprovisionamento e que, a pouco e pouco, foi fundando vantagens competitivas que lhe conferem resistência à avalanche da grande distribuição, seja pela especialização, seja pela proximidade, seja pelos horários praticados. Na verdade, não é por uma questão de detalhe nas áreas do Modelo que os consumidores vão passar a fazer as suas compras no Luiz Campos (esse sim, era comércio tradicional que teve a sua época e… já passou). Antes disso, vão ao Pingo Doce estabelecimento que, tal como o primeiro, está integrado num dos maiores grupos de distribuição em Portugal (Jerónimo Martins), ou vão ao LIDL (uma loja de desconto).

Por conseguinte, a conclusão a tirar é a de que a actual lei é hipócrita, ineficaz e, pelo tanto, desnecessária.

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