Disse o Prof. Medina Carreira que a qualidade do ensino decaiu a partir de meados da década de noventa. Se quisermos ser precisos podemos fixar o ano de 1996. Nada mais, nada menos do que os três anos que levou a implementar a reforma "operada" por Couto dos Santos em 1993. Perdoem-me o desabafo, mas não foi nada que eu não tivesse previsto. Na altura, tal como hoje, exprimi a minha revolta num artigo que foi publicado em três edições sucessivas do "Brados". Nele se antevia aquilo que, efectivamente, se veio a verificar.
Bom, dirão alguns, mas não houve nenhuma reforma do ensino em 1993. De facto não. A reforma iniciou-se na verdade em 1989 e a sua autoria nem sequer pode ser atribuída a Couto dos Santos mas sim a Roberto Carneiro. Porém, tal reforma teve uma implementação faseada, pelo que os seus efeitos apenas chegaram ao ensino secundário em 1993 e ao superior em 1996. Efectivamente, no ensino as consequências dos disparates levam tempo até se tornarem evidentes, tal como os efeitos da desastrosa implementação do processo de Bolonha em Portugal só serão perceptíveis lá para 2010.
E assim chegamos ao momento actual, o qual, garanto-vos, é o mais dantesco, o mais sinistro. Maria de Lurdes Rodrigues começou por lançar um anátema sobre os professores, procurando que estes fossem vistos aos olhos da opinião pública como "baldas", inúteis, incompetentes, etc., culminando na acusação mais recente de também serem hooligans (veiculada através de um lacaio de serviço que faz jus à sua fama de energúmeno). Acto contínuo cria uma categoria de professores titulares, provendo-a com base em critérios administrativos que nada tinham a ver com excelência pedagógica. Como se não bastasse, pretende agora nomear comissários políticos, através de colégios oligárquicos, para directores das escolas, subtraindo o último laivo de liberdade de que os professores ainda dispunham na escolha dos seus representantes. Por fim, tentou também passar a ideia de que os professores não querem ser avaliados.
Maria de Lurdes Rodrigues conseguiu o impossível: unir uma classe profissional das mais heterogéneas que existem. Quando 100 mil professores protestam contra os dislates que têm vindo a ser praticados, reage com autismo dizendo que estão "mal informados". Mas não estão. Eles sabem que a avaliação que é proposta não premeia a promoção do saber, nem do saber-fazer, nem sequer do saber-ser/saber-estar dos alunos. É assim uma avaliação de faz-de-conta em que o parecer prevalece sobre o ser, em coerência aliás com a licenciatura do nosso primeiro. Estão a ser dados sinais errados aos alunos (de que não reprovam por faltas, de que irão ter "novas oportunidades") que minam completamente o ingrediente fundamental da aprendizagem: o querer-saber. O que importa, de acordo com a hipocrisia vigente, é fingir que os professores ensinam e que os alunos aprendem, divulgando "estatísticas de sucesso".
0 Comentários:
Enviar um comentário