quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

História do Presente

Floyd Mayweather Jr. e Ricky Hatton foram os dois nomes mais referidos pelos canais televisivos internacionais quando José Sócrates fazia, em directo, a declaração final da "histórica" cimeira Europa – África realizada no passado dia 8 de Dezembro. Na referida alocução, o Presidente em Exercício da União Europeia exagerou no enaltecimento dos resultados conseguidos. Do meu ponto de vista, não havia necessidade. De facto, momentos houve em que a classificação de "histórica" era intercalada em cada três palavras do seu discurso. Perdi a conta, mas foram para aí sete vezes, com a agravante de tais declarações terem sido entremeadas com mais dois "acontecimentos extraordinários", com outros tantos "sucessos" e, finalmente, como pelo menos um "foi um êxito".

Justifico agora a razão pela qual me referi em primeiro lugar a um outro nome que vai também, seguramente, ficar na História: Floyd Mayweather. Agora pergunto: trata-se de algum líder africano (daqueles que participaram na cimeira)? É Ministro de algum país europeu? Resposta: Não! É um afro-americano que no mesmo dia em que Sócrates escrevia as páginas da História estava a "ensinar boas maneiras" a um britânico pedante chamado Ricky Hatton, unificando os títulos mundiais de boxe na categoria de pesos médios. E o que tem isto a ver com a Cimeira UE – África? Nada! A única coisa em comum é que estes dois personagens eram a notícia em diferentes canais internacionais no exacto momento em que Sócrates falava da "sua" histórica cimeira, na respectiva sessão de encerramento. Uma de duas: ou as redacções das cadeias internacionais de televisão andam distraídas em relação aos temas mais prementes da actualidade; ou então não estavam a dar tanta importância assim ao feito histórico de Sócrates.

Deixem-me que agora refira que nos dias seguintes a imprensa escrita internacional também não comungou dos pontos de vista de Sócrates em relação aos resultados da cimeira. Na realidade, excepção feita a alguns jornais nacionais – e, ainda assim, não todos – a generalidade da imprensa escrita internacional acabou mesmo por ser severa na apreciação dos resultados, especulando eu que, provavelmente, foi justamente por Sócrates ter exagerado no auto-elogio. Conclusão: se Sócrates tivesse sido mais modesto nas suas considerações, provavelmente, (repito: provavelmente), o julgamento externo da cimeira teria acabado por ser significativamente mais simpático.

Ainda que não seja especialista em Psicologia, atrevo-me a considerar que as pessoas que enaltecem em excesso os seus próprios feitos acabam por evidenciar características de quem sofre de distúrbios do foro psicológico, nomeadamente de megalomania (ilusão de grandeza, que reputa todos os actos próprios de grandiosos). Como alguém dizia, "o auto-elogio é o substituto do elogio que não aconteceu". É, por assim dizer, o menosprezo da inteligência alheia. Logo, quem se sente ofendido por lhe terem dito algo do género "V. Exa. não sabe avaliar, logo eu avalio por si", é natural que reaja negativamente.

Concluo da seguinte forma: com menos prosápia e gabarolice a Cimeira UE – África teria tido maior sucesso.

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