- Dantes, durante séculos, as discussões caracterizavam‑se assim: (1) dois tolos (pelo menos…); (2) fraco domínio sobre o assunto discutido; (3) orgulho possidónio, traduzido numa inquebrantável vontade de “ganhar” a discussão custasse o que custasse.
Para uma boa discussão à moda antiga – as quais, invariavelmente, acabam numa autêntica zaragata (com ou sem sopapos à mistura) – os ingredientes apresentados são, todos eles, indispensáveis. Primeiro porque sem dois tolos (pelo menos…) não há discussão possível. Segundo, porque apesar de bastar que um dos antagonistas não saiba bem do que está a falar, a outra parte – ainda que dentro da razão (o que quer que isso seja) – continua a revelar um deficit de inteligência ao pensar que consegue vergar por argumentos o adversário. Terceiro, porque só mesmo um palerma dos mais obtusos pensa que consegue ganhar uma discussão, sem ganhar também o ressentimento do amor-próprio ferido do perdedor.
Em suma, não é a “ganhar” discussões que se consegue puxar os outros para o nosso ponto de vista.
Porque será, então, que as discussões à moda antiga continuam tão actuais? - Quem não discutiu rigorosamente nada foi o último Presidente da 2.ª República, Américo Thomaz. Foi nos anos setenta, numa altura em que já Marcello Caetano negociava secretamente a saída das tropas portuguesas da Guiné, que o Contra-Almirante veio ao Roucanito fazer uma “porta” às perdizes. Depois do esforço, Sua Excelência dirigiu-se ao Monte de Lavoura onde os assalariados rurais, fardados de pelicos e safões, o aguardavam cheios de curiosidade. Quando o velho Presidente os viu, quis ir falar com eles. Quis saber como corria a vida daquela boa gente, que achava merecedora da sua atenção. Disse-lhes que as coisas iriam melhorar e muito com a construção do Alqueva, lá para os anos 80, mas que ele já cá não iria estar para ver, porque se sentia muito fraquinho, com os anos a pesarem. Nisto um pastor sugeriu: “Isso com uma granada passa, Sr. Presidente!”… Foi o cabo dos trabalhos explicar aos agentes da DGS/Ex-PIDE (que ali faziam de mochileiros) que o pobre homem apenas recomendava um prato de grão-de-bico com carne e enchidos.
- Foram intensas e aguerridas as discussões que travei com o José Sena. Lembrei-me delas no dia em que assisti ao lançamento de um livro em sua memória. Por cá é lugar comum dizer bem daqueles a quem a vida já fugiu. Por isso não o vou fazer. Entre um prato de caracoletas, num intervalo das aulas, discordei, contestei, rebati argumentos. Disse-lhe em vida tudo quanto me apeteceu…
[Publicado em 16 de Junho de 2006 no Jornal Brados do Alentejo (http://bradosdoalentejo.com.sapo.pt)]
Se a AD e o PSD forem o Dupont e Dupond, é o fim
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(que se meteu na política) e a nossa Justiça (que deixou prescrever crimes
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