Estão a ocorrer dois fenómenos que induzem a esperança de que melhores dias virão. Ainda que de forma irritantemente lenta, os preços dos combustíveis já começaram a baixar. Por outro lado, aqueles que estão a pagar empréstimos à habitação (com taxa de juro indexada à Euribor) poderão vir a registar um desagravamento do crescimento dos encargos ou até, mantendo-se a actual tendência, uma eventual diminuição destes (se a revisão da taxa ocorrer para lá de Dezembro).
Em contrapartida continuam a pairar no ar nuvens negras. São insistentes os rumores de que a actual crise financeira poderá preceder uma crise económica de dimensões inimagináveis há apenas algum tempo atrás. As razões explicam-se em poucas palavras. Se a crise financeira atingisse apenas o mercado de capitais – banca, empresas financeiras e investidores especulativos – alguns até diriam "Bem feita!". O problema está no facto de muitos inocentes terem confiado as poupanças de uma vida de trabalho a certos fundos – agora classificados de "tóxicos" – e, de um dia para o outro, ficarem privados dos recursos que lhes iriam permitir continuar a consumir como até aqui. Isto já aconteceu na Islândia, está a acontecer nos Estados Unidos e, teme-se, poderá ainda acontecer noutros países. Sem recursos financeiros não há consumo, assim como deixa de haver financiamento à economia, factos que poderão gerar falências em catadupa, desemprego e, num círculo perigosamente vicioso, mais quebras na procura, mais falências, etc. Bom, oxalá tal não aconteça.
Alternando com aquilo que se pensa serem boas notícias, o Governo anunciou uma subida do salário mínimo para 450 euros (mais 5,6%) e aumentos de 2,9% para a função pública, daqui resultando um acréscimo no rendimento das famílias na ordem dos 3%. Porém, quer o crescimento da massa salarial quer as injecções de dinheiro no mercado financeiro são manipulações artificiais (no sentido em que não ocorreriam sem haver um aumento efectivo na riqueza criada). Esperemos, pois, que tais medidas resultem conforme o que se deseja, sem que daí resultem "inchaços", ou seja, meros aumentos de volume sem correspondência na substância (inflação).
Ao contrário, a redução da cotação do petróleo já é um reflexo do mecanismo de mercado a funcionar na sua plenitude. Perante a eminência da recessão económica, o mercado de matérias-primas ressentiu-se pela redução da pressão da procura. Este automatismo vai ser muito importante para a retoma económica. Todavia, não nos iludamos ao pensar que as causas estruturais do 3.º choque petrolífero estão ultrapassadas. Passada esta conjuntura o petróleo voltará a subir até que seja reduzida a dependência dos combustíveis fósseis.
Enfim, vamos acreditar que tudo irá correr pelo melhor!