Quando em 1980 entrei para a Universidade de Évora, um professor de Ecologia recomendou-me o livro de Zózimo Castro Rego, intitulado "A água: a escassez na abundância". Desta referência apenas aproveito o título, porquanto ele descreve perfeitamente a actual situação vivida em Estremoz.
Das actuais fontes de abastecimento – Álamo, Chocas, Cerca do Convento, Pedreira de Santo António e Sátiro – é possível bombear para os depósitos cerca de 150 m3 (que é como quem diz: 150 mil litros) de água por hora. É muita água. O problema é que deste caudal ninguém sabe ao certo que fracção do mesmo chega aos depósitos. Primeiro, porque o sistema de telegestão implementado no mandato autárquico anterior deixou de contar com a necessária manutenção, política que tornou aquele importante investimento em algo inútil num curto espaço de tempo. Neste momento só se sabe que há perdas nas condutas adutoras quando a água jorra à superfície. Depois, também não se sabe quanta água se perde entre os depósitos e as casas dos munícipes. Apenas se sabe que é muita. Cruzando os valores facturados aos munícipes e conjugando com as respectivas tarifas constata-se que apenas uma pequena fracção da água extraída das captações chega ao seu destino.
Fica-se com a sensação que o executivo municipal repousou no facto de ter aderido ao sistema multimunicipal das Águas do Centro Alentejo. Pensou que tinha o problema resolvido. A verdade é que aquela empresa ainda não tomou posse efectiva da gestão do abastecimento em alta. Nem sequer passou ainda da fase de estudos. Entretanto, a CME negligenciou o aprovisionamento de materiais e, mais recentemente, já nem sequer está a fazer a manutenção dos contadores. Em boa verdade, apenas foi eficaz a subir as tarifas da água, tornando-a mais cara para aqueles que efectivamente pagam a que consomem. Quanto aos restantes, se antes só pagavam o aluguer do contador, agora já nem isso.
Estremoz não é propriamente uma cidade flutuante mas quase. O sistema aquífero de Estremoz – que tem uma extensão de 45 Km (entre Cano e Alandroal) – constitui um grande lago subterrâneo que esteve na origem da imensa jazida de mármore que caracteriza a região. Água não falta. Pode estar a 75 ou 80 metros de profundidade, mas existe. O que não há mesmo é sensibilidade do executivo para gerir tal recurso. Tudo fica esclarecido se referirmos que apenas perguntaram aos serviços o que se passava com a água quando cá veio a RTP.