1. Charrua no Deserto
Lembram-se da gafe do PIB (aquela de Guterres)? As gafes em si pouco valem. Afinal, são meros lapsos de memória ou de linguagem que qualquer um pode cometer. Mais relevantes são os estados de alma que estão por detrás de tais lapsos, esses sim, verdadeiramente preocupantes. No caso de Guterres, não foi o facto de ele, momentaneamente, não se lembrar do valor do PIB que foi importante. Foi, sim, ele não ter a mais pequena ideia do que estava a falar, já que estava a papaguear sobre algo que lhe sopraram ao ouvido e da qual não tinha noção, quanto mais conhecimento.
Desta feita, as gafes vieram aos molhos. De Mário Lino, um engenheiro inscrito na respectiva ordem profissional, com o Deserto; de Sócrates, engenheiro de profissão (embora não exerça), apelando ao esforço de todos para um país mais… pobre; de Milú, a educada ministra que responde a apupos com vaias, que não viu nada de anormal no caso Charrua; e, finalmente, de Aníbal Cavaco Silva, o nosso honorável Presidente da República, não por ter dito alguma coisa audível, mas sim por ter mantido um silêncio ensurdecedor quando, jamais, o podia fazer.
No caso de Mário Lino, a verdadeira gafe não é ter ofendido – involuntariamente, acredito – toda a margem Sul ou, mais particularmente, os residentes das Faias e do Poceirão. O verdadeiro lapso é a sua falta de visão estratégica, o seu desconhecimento da Teoria dos Pólos de Crescimento. Mário Lino provavelmente não sabe que a americana Las Vegas, cuja área metropolitana tem hoje cerca de dois milhões de habitantes, tinha sensivelmente a mesma população que a nossa freguesia de Veiros no dealbar do séc. XX. Las Vegas, que foi, literalmente, construída no deserto, regista hoje cerca de 1000 voos diários e… não tinha escolas, não tinha hospitais e nem sequer gente que fizesse vulto numa claque de futebol. E o que foi que mudou esse estado de coisas? Um mero terminal ferroviário associado a uma localização estratégica excelente.
Ora, localização estratégica excelente também Estremoz tem. Portanto, mesmo que para Lino sejamos uma miragem, que Milú feche escolas, que Costa feche esquadras, que Campos feche hospitais, que Sócrates nos queira mais pobres, e que Cavaco se cale quando devia gritar em nome da liberdade, o Alentejo vai não só sobreviver como até, dentro de algum tempo, tornar-se um pólo de desenvolvimento. O paradoxo desta situação, que mais parece ironia socrática, é que o Alentejo tornou-se atractivo graças ao seu próprio abandono, sendo hoje um lugar recatado e apetecido, onde vale a pena investir. Esta mesma foi a conclusão que extraí da Conferência/Debate sobre o Turismo – organizada por um grupo de jovens estremocenses – que teve lugar no passado fim-de-semana no Centro de Ciência Viva. A esses jovens, o meu Bem-Hajam!
2. Os popós da vereação
São tão giros… e económicos. Foi mesmo uma boa escolha.