quinta-feira, 3 de abril de 2008

A crise na Educação (II)

No dizer de António Sérgio "para o portuguesinho valente, a culpa é sempre dos governos". Assim, quando na edição anterior desta coluna dei a entender que os governos tinham sido responsáveis por uma boa parte dos problemas da Educação em Portugal, coloquei-me numa posição, incómoda, de proximidade da crítica vulgar. Todavia, a verdade é que foram cometidos erros sucessivos nos últimos 30 anos, intercalados por algumas menos frequentes medidas acertadas.

De facto, logo a seguir à Revolução de Abril cometeu-se o primeiro grande erro: a extinção do ensino técnico. Contudo, o que se pretendia, afinal, era acabar com a segregação decorrente da existência de dois tipos de ensino secundário: o liceal, para jovens provenientes das famílias melhor posicionadas na hierarquia social; e o ensino técnico, para os restantes. Portanto, os propósitos que presidiram a tal decisão eram – tanto na época, como actualmente – pertinentes. O problema foi que se deram sinais errados aos jovens (e às respectivas famílias), criando a ilusão de que as aprendizagens técnicas eram dispensáveis num quadro de acesso generalizado ao ensino superior. Estes continuaram a tirar cursos mas, paradoxalmente, tal crédito deixou de conferir sucesso na empregabilidade, porquanto as "habilitações académicas" ao nível do ensino secundário deixaram de ser sinónimo de "habilitações profissionais". Quem conseguia aceder ao ensino superior ainda se ia safando; quem ficava de fora – quer por falta de vaga nas universidades ou por falta de capacidade económica das famílias – ficava também em pior situação que as gerações anteriores, perdendo-se o nexo de causalidade entre estudar e ter sucesso profissional que antes existia. Com que vontade de aprender ficaram aqueles que se confrontaram com esta realidade?

Outra das consequências de tal política foi um progressivo distanciamento da realidade escolar em relação à realidade produtiva para a qual, supostamente, devia preparar os jovens. Ora, tornando a escola mais verbalista e enciclopédica, na qual se passou a privilegiar as teorizações de outros ao invés das aprendizagens induzidas por experimentações concretas, a aprendizagem tornou-se mais difícil, mais abstracta e menos motivadora para os alunos. Passou-se a "marrar" em vez de estudar, a "empinar" sem compreender e, finalmente, a "despejar" nos testes sem qualquer possibilidade de aplicar na prática os conhecimentos adquiridos. Aliás, para os alunos "despejar" passou a ser o acto supremo de libertação da sua condição de aprendentes, já que era também sinónimo de poderem esquecer o que antes haviam memorizado.

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